Meu problema de voz me trouxe um lado negativo bem carregado. Me tornei uma pessoa mais antissocial do que já era normalmente. Hoje em dia confesso que estar em contato com os outros seres humanos é um exercício nem sempre muito agradável e muitas vezes até estressante. A dificuldade que sinto em emitir a voz é algo que me cansa fisicamente e muito mais ainda mentalmente. Sentir que as outras pessoas não estão ouvindo o que estou dizendo, quando fecham os olhos tentando ler os meus lábios é algo que me dá vontade simplesmente de sair, voltar para meu apartamento e ficar aqui para sempre.
Claro que nunca desisto, não está na minha personalidade desistir de vez de nada. Estou sempre em busca de uma solução, de um atalho, de uma forma de contornar. Nesses três anos e meio depois da cirurgia que me deixou com a voz assim, acho que ainda não consegui me aceitar desse jeito, às vezes tento, outras vezes acho mesmo que não tenho que me conformar e sim continuar buscando soluções. É o que tenho feito e estou partindo para uma terceira cirurgia que tenho esperança que melhore esse quadro.
Já disse uma vez em outro post em que falava do assunto, que pouco me abro com as pessoas sobre o quanto esse problema de voz tem me aprisionado dentro de mim mesma. É que normalmente quando tento falar isso para alguém sou bastante incompreendida, coisa que me deixa com muita, mas muita raiva. Por isso optei por não falar mais do assunto com as pessoas. Só converso sobre isso com algumas poucas pessoas que parecem entender, mesmo assim não me sinto confortável quando toco no assunto. Acho mesmo que é algo que preciso resolver comigo mesma, ou aceitando ou encontrando uma solução cirúrgica.
Por outro lado esse problema me trouxe um amadurecimento pessoal grande. Posso dizer com toda certeza que sou uma pessoa que me coloco mais no lugar dos outros, procuro entender mais. Quando escuto um problema, por mais distante que aquilo esteja de mim, penso em como me sinto todos os dia, a incompreensão das pessoas e percebo que tenho que tentar entender aquela pessoa, de um jeito ou de outro. E na verdade é bem possível entender o drama do outro, por mais bobo que aquilo posso parecer. Evidentemente que há casos e casos, tem pessoas que fazem uma verdadeira tempestade com qualquer bobagem, mas não é disso que falo. A questão fica mesmo em cima de entender a situação do outro mesmo que o problema do outro seja uma questão distante do seu universo. Cada um tem seu inferno pessoal, cada um sabe o que detestaria para sua vida. E o que é banal para mim pode ser um horror para o outro. E acho que temos que pelo menos fazer esse movimento de busca da compreensão.
Isso posso dizer que o problema de voz me trouxe. Mais empatia e menos intolerância. Talvez por isso eu esteja passando por isso, talvez precisasse desse crescimento. Essa é a grande lição que fica.